domingo, 8 de fevereiro de 2009

A PARTIR DA IMAGEM

Arrufus(1887), tela pintada porBelmiro Barbosa de Almeida


Há tempos, tinha a desconfiança puxando-lhe a orelha. Também sempre notou o semblante de alumbramento do marido, mesmo quando estava no quarto.
Parecia que relembrava algo muito especal, pois havia no seu olhar distante, um brilho diferente.
Naquela tarde, o lenço com cheiro de perfume francês diferente do seu, achado em um dos bolsos do paletó, foi a peça chave para constatar o que no fundo, um voz interior já lhe alertava.
Ao chegar na sala para interpelá-lo sobre o cheiro feminino do lenço, o homem calmo, de traços finos, cruza a perna e dispara com rapidez:
__É do perfume da minha outra senhora.
A mulher, sem pernas nem nervos, despenca ao pé da poltrona e surta completamente, buscando uma explicação por entre lágrimas e sentimentos de culpa.
Alí, na sala bem decorada com móveis coloniais, cortinas de tecido importado, a paixaão de seu marido se apresentou a ela, fazendo contraponto ao que ela chamava e acreditava ser amor.
Ele continuou a contemplar o vazio fumando seu charuto.


Stefano Ferreira. Tinha acabado de ler uma crônica muito bos do Manoel Carlos, publicada no livro "A arte de reviver" da Editora Ediouro, sobre a paixão. Ao decidir que obra escolher para retomar o A Partir da Imagem, lembrei de Arrufus, obra que adoro, pela dramaticidade romântica da cena pintada. Então acabei escrevendo um miniconto com a paixão sendo o foco do texto, mostrando a universalidade to tema tão bem focado tanto pela literatura, quanto pelas artes visuais.

Sem comentários: