domingo, 13 de março de 2011

A PARTIR DA IMAGEM


MINICONTO DO AMOR DE FOLIA


Depois que a quarta-feira de cinzas se apresentou com o sol quente e a morte dos blocos de rua, ela ainda de fantasia, encostou na janela do casarão vazio e descobriu que o amor da noite passada era folia.

Olhando a rua vazia e com beatas que já vinham da igreja com o sinal da cruz tatuado pela cinza em suas testas, se tocou que não era mais rainha. Apenas rapariga, sem príncipe,sem brilho,sem nada.



Stefano Ferreira. Miniconto escrito a partir de uma caricatura do Di Cavalcanti.

Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo, mais conhecido como Di Cavalcanti (Rio de Janeiro, 6 de setembro de 1897 — Rio de Janeiro, 26 de outubro de 1976) .

Nascido no Rio de Janeiro em 1897, fez sua estreia como desenhista no salão das Humoristas em 1916. Após se mudar para São Paulo em 1917, conviveu com Mário e Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Brecheret. Frequentou também o ateliê do pintor impressionista alemão George Elpons.
Foi dele a ideia da Semana de Arte Moderna, que aconteceu no Teatro Municipal de 1922. Era uma época de muitas novidades, como o carro, a fotografia e o cinema mudo. Então a vida das pessoas estava mudando muito rápido, mas a poesia e a pintura continuavam a seguir as antigas regras, em sua maioria francesas.

Di Cavalcanti foi também um intelectual bem informado sobre as vanguardas artísticas de seu tempo. Em 1921, foi convidado a ilustrar o livro "Balada do Cárcere de Reading", de Oscar Wilde, um dos mais renomados escritores da época. Neste mesmo ano se casa com Maria, sua prima em segundo grau.

A semana de 22 foi uma espécie de festival em que modernistas brasileiros mostraram seus trabalhos. Além de expor suas telas, Di Cavalcanti desenhou o programa e os convites da mostra. Em seguida, em 1923, viajou para a Europa para estudar e lá conheceu e conviveu com grandes mestres da pintura, como Picasso, Braque, Matisse e Léger. Di Cavalcanti também teve influências de Paul Gauguin, de Delacroix e dos muralistas mexicanos. O contato que teve com o cubismo de Picasso, o expressionismo e outras correntes artísticas de vanguarda, contribuiu para aumentar sua disposição em quebrar paradigmas e inovar em sua arte, sem perder de vista uma estética que abordava a sensualidade tropical.

Na volta ao Brasil, retratou temas nacionais e populares, como favelas, operários, soldados, marinheiros e festas populares. Também ficou conhecido por seus belos retratos de negras, fase em que consagrou a modelo e atriz Marina Montini.

Em 1926, já no Brasil, ingressa no Partido Comunista e continua a fazer ilustrações. Após nova viagem a Paris, faz os painéis de decoração do Teatro João Caetano do Rio de Janeiro. Em 1932, durante a Revolução Constitucionalista, Di Cavalcanti é preso pela primeira vez. Após ser libertado, se casa com Noêmia Mourão, sua segunda esposa. Em 1950 projetou o mosaico da fachada do Teatro Cultura Artística, a maior obra do artista, com 48 metros de largura por 8 metros de altura.

O pintor recebeu prêmios importantes, como a "Medalha de Ouro" na exposição de Paris (1937) e o título de "Melhor Pintor Brasileiro" na II Bienal de São Paulo (1953), junto com Volpi.

Di Cavalcanti era um artista de muitas habilidades. Além de quadros e ilustrações para revistas, fez desenhos para jóias, tapetes e painéis. Morreu na sua cidade natal em 1976.

Sem comentários: