domingo, 28 de dezembro de 2008

A PARTIR DA IMAGEM

O Bar do Folies- Bergere, de Manet, 1882, 97 x 130


MINICONTO EPIFÂNICO

Já passava das três da manhã, quando o sono lhe lembrava o cansaço que há horas expressava seu rosto.
Entretanto a festa acabava de começar para as centenas de pessoas que ali estavam, sedentas por diversão e que cantarolavam as valsas e chorinhos, executadas pela orquestra que tocava suspensa no mezanino do bar.
Ali, parada ela olhava a vida através dos que a comemoravam, olhava os beijos, os goles de vinho entre um sorriso e outro, as baforadas de charuto e os sinais ocultos de mulheres para homens comprometidos e vice e versa.
Naquele balcão, servindo bebidas para alegrar a noite alheia, teve o clarão de sua vida: decidiu a partir daquele momento, viver de fato.
E no balcão mesmo, continuava a viajar se projetando naquelas mulheres sem pudor, nem cerimônia.


Stefano Ferreira


P.S:. O "A Partir da Imagem" de hoje, tem um significado muito especial para mim. Primeiro por que adoro Manet ( Isso mesmo, Édouard Manet e não Claude Monet, pintor que eu também adoro).
Segundo, por que esse quadro é um dos meus preferidos, um dos precursores do impressionismo.
Suzon, a bela e triste figura desta que foi a última obra-prima de Manet, talvez refletisse a tristeza do próprio Manet que ao pintar este quadro, um ano antes de morrer, já se encontrava bastante enfermo. Manet foi acusado de desconhecer as leis da perspectiva por retratar o reflexo no espelho de um freguês que parece conversar com a atendente mas que não tem presença concreta na obra. O que seus críticos não perceberam foi que nós, os espectadores, estamos no lugar que caberia ao freguês.

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