Foto: Stefano Ferreira

UM CERTO SERTÃO DE DENTRO

Para todos os oeirenses

EM UM BECO CURVO O TEMPO PASSEIA
COMO SE FOSSE ONTEM
PORTAS ESTREITAS ESPREITAM A VIDA MANSA
UM CAVALO BALANÇA O RABO LENTAMENTE
E UM SINO QUEBRA A MONOTONIA COM MAESTRIA

LOGO ALÍ NA PRAÇA RETANGULAR
CRIANÇAS CANTAM EM CÍRCULO
APRESENTANDO A VIDA
ÀQUELES QUE MESMO VENDO-A
PREFERAM NÃO ENXERGÁ-LA

UM CHEIRO DE ARROZ-DE-LEITE,
SAI PELA JANELA QUE VISLUMBRA
A CARNE CRUA DE UM PASSADO
RECHEADO DE VITÓRIAS E DORES

CADEIRAS DE MACARRÃO SERVEM
PARA A PROSA QUE EMBALA O SOL ATÉ SE PÔR
E COMO SE FOSSE UM COCHICHO
UM TERÇO É REZADO AO LONGE

AVE MARIA CHEIA DE GRAÇA...

A NOITE AQUI É MAIS INTENSA,
O CEU MAIS PRÓXIMO DOS PÉS,
ESTRELAS BRINCAM DE SE ESCONDER,
E ALMAS PASSEIAM NOS LOGRADOUROS

A POESIA SOBREVIVE AQUI
CADA PEDRA É PALAVRA
CADA PESSOA: LINGUAGEM
HÁ UMA NOTA MUSICAL
ESCONDIDA EM CADA OLHAR

NESSA TERRA TODOS EXALAM
UM DESEJO ENVERGONHADO
SÓ VISTO POR ESSES SERTÕES DE DENTRO

SERTÕES QUE CARREGAM UMA PESADA LEVEZA
ONDE SORRISOS NO CANTO DAS BOCAS
REVELAM A ALEGRIA SINCERA DE SER DAQUÍ.

Stefano Ferreira, 19 de abril de 2008, escrito com a tinta do jeito oeirense de ser, numa tarde quente de sábado de um abril com jeito de junho.