
Uma das coisas que mais me irrita é a avalanche de livros de auto-ajuda que superlotam as livrarias da capital piauiense.
Agora, juntamente com eles, uma nova categoria disputa o espaço de estantes e vitrines, sem permitir que qualquer outra expressão literária tenha destaque. São os chamados livros de literatura afegã ou de narrativas orientais.
Embora muito deles, não sendo escrito por autores do Oriente, eles revelam costumes e narrativas orientais que encantam leitores fiéis as listas divulgadas pelo mercado, as chamdas "listas dos mais vendidos".
São caçadores de pipas, livreiros de Cabul, estórias de Istambul, enfim, o que for do oriente tem lugar privilegiado nas livrarias, disputando a posição com os mensais lançamentos de Augusto Cury, um misto de pedagogo, psicólogo, que narra histórias educativas a partir de parábolas bíblicas.
Acho maravilhoso esse universo oriental que é pintado nessas narrativas, muitas delas bem escritas, mas não entendo por que outros tipos de literatura precisam sumir das livrarias, inclusive a literatura brasileira.
Na última passagem por uma dessas livrarias, visitei logo as estantes mais escondidas, reconhecendo nomes como Darcy Ribeiro, Virgínia Wolff, Zuenir Ventura, dentre tantos outros que poderiam compôr a exposição da vitrine.
Mesmo assim, decidí verificar quem estava na posição de destaque, lançamentos, enfim, novidades.
Na vitrine, entre aqueles preferidos do mercado, avisto com uma capa de muito bom gosto estético, um livro grosso, onde balbuciei baixinho:"A vida como ela é... de Nelson Rodrigues".
Aproximei-me e logo estava em minhas mãos a coletânia de contos que o grande mestre publicara desde 1950 no jornal ULTIMA HORA, na coluna de mesmo título.
De temáticas universais como a fidelidade, o ciúme e o conflito entre o amor e o sexo, os contos dessa fase, reflete principalmente os falsos moralismos das famílias de classe média do Rio dos anos cinqüenta e sessenta.
Há algum tempo tinha vontade de ler Nelson Rodrigues, pois havia lido muito pouca coisa e gostaria de me aprofundar nesse mundo de análises psicológicas e sociológicas que os contos mergulham. Acho que tinha lido uma crônica chamada "O beijo no asfalto", o resto tinha visto na TV.
Aquela vitrine me alegrou muito, naquele shopping vazio e quente, pois no meio de best-sellers sobre o oriente, Nelson Rodrigues me chamava para mostrar "A vida como ela é..."
DICA DA SEMANA:
A VIDA COMO ELA É...
NELSON RODRIGUES
EDITORA AGIR
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