
Numa insônia danada, pois não é que me deu vontade de postar algo sobre um poeta piauiense!
Torquato não vale, sempre falo dele, acho até que meus amigos já devem ter abusado de me ouvir falar do tropicalista ou então acham que tenho alguma neurose em relação ao anjo torto.
Então lembrei de um poeta parnasianista, simbolista e panteísta que eu adoro.E é por que o parnasianismo não é uma de minhas escolas favoritas, mas o poeta piauense Da Costa e Silva era tão profundo, que não dá para classificá-lo apenas em uma escola.
Dono de uma obra mutante e experimental, Da Costa e Silva passeia por vários estilos e em uma época bem disatante da nossa, já se preocupava com a natureza.
Uma prova da sua preocupação ecológica foi o livro Zodíaco de 1917, onde dedica seus versos a máquina da natureza, revelando seus encantos e sua preocupação com as práticas humanas de devastação.
Só para conferir, leia o poema abaixo sobre as queimadas e se deleite com os versos do poeta do Rio Parnaíba e da saudade:
A Queimada
Uma espira
De fumo
No ar gira
Sem rumo ...
Essa mancha azulada
É um sinal de queimada.
E o cinéreo troféu
Do fogo, ao sabor do vento,
Vai subindo, leve e lento,
Tisnando a seda do céu.
A fumaça, que se ergue, indolente e ondulada,
Mostra ao longe o roteiro da queimada.
Paira no ambiente morno,
Asfixiando, um letárgico mormaço;
E em torno,
Curvo, lavado em luz, reverberando, o espaço
Dá-me uma nítida impressão de uma abóbada de aço,
Sob a temperatura cálida de um forno.
A atmosfera carregada
É o prenuncio da queimada.
Esfuma-se a paisagem ...
E pelos campos se manifesta
De súbito um rubor no verde da folhagem,
Que agosto amarelece e a canícula cresta,
Como se, na explosão de ignívoma voragem,
Rebentasse um vulcão no seio da floresta.
(...)
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