sexta-feira, 20 de julho de 2007

TRISTE EPOPÉIA DO MOCHA

Ilustração: "cinzas e sangue do mocha(stefano ferreira)
Para Pedro Júnior, Cassandra Yara, Rossana Ferreira e Rogério Newton

Logo ali
Onde o vento faz a curva
E gordas mulheres devoram vida alheia
Jaz um riacho

Foi uma luta desleal

O riacho lutou sozinho
Contra a fúria e frieza
Que o sacrificou sem piedade

Muitos nem lembravam
Que junto com aquelas águas
Além das espumas de suas roupas sujas
Estavam também seus pecados
Seus sonhos
Amores e desejos

Apoiaram a matança
Deram-lhe cicuta
E mataram o riacho publicamente

O pobre riacho
Caiu com suas águas eclipsadas
Refletindo a cor cinza
Cimento e morte

E com festa foi enterrado
Merecendo
Até epitáfio
Próximo
Ao mausoléu de concreto


Hoje ressuscita
Apenas na lembrança

Banha muitas almas de saudade


Ali na ponte solitária
Naquela margem
Nem marias-moles restou,
Para nos contar a história.

Stefano ferreira

1 comentário:

Unknown disse...

Ah, ler esse texto em deu saudade e tristeza.
Só restou lembranças.