
Certa vez, lí num poema de Gullar que a poesia vai á esquina e compra jornal.
Na época que lí o verso, ainda era muito novo para compreender a profundidade com que o autor refletia sobre a poética de nosso tempo.
Somente depois de muito tempo, colhendo sabores e saberes de uma prática de leitura e de vivências, é que comecei a entender que a poesia está no olhar de quem quer enxergar com poesia.
Para a maior parte das pessoas, a poesia é algo muito distante de suas vidas.Talvez nunca pararam para ver que a poesia esta nelas mesmas, na forma como podem lançar seus olhares sobre o mundo e sobre as coisas que as cercam.
Ontem mesmo, encontrei a poesia na esquina de uma praça aqui de Oeiras,chamada antigamente como Praça do Perdão. Ela estava alí, me esperando, pronta para me causar um sentimento de telurismo e deslumbre na rotina urbana. Só ia depender de mim, de como olharia aquela cena, transformando-a em sensação poética.
Na praça, estava estacionado o carro pau-de-arara com os convidados e próximo á fonte, os noivos, tirando o tradicional retrato, com sorrisos entre dentes que se podia, ao longe, perceber a felicidade irradiada pela expressão de suas faces.
Contudo, as pessoas iam e vinham, vendo tudo aquilo como um simples casamento de pessoas da zona rural.As pessoas não davam conta de enxergar a beleza daquele momento cheio de verdade, pureza e ao mesmo tempo de uma subjetividade marcante.
Ninguém parava ou se quer se surpreendia com a singela cena exposta, como poesia doce, que deixa um gosto pueril de algo raro.
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