terça-feira, 14 de dezembro de 2010

COLORINDO A VIDA CINZA DA CIDADE DE CABEÇA SUJA

Como ela sempre saía mais cedo e estava chovendo, ele correu ao guarda-roupa que tinha pôsteres de filmes franceses antigos, abriu a porta em busca da capa transparente há muito tempo sem uso e detectou que a mulher já havia levado como proteção à chuva fina que caía molhando as ruas da cidade ainda sonolenta.

Sem alternativa, pegou a sobrinha de fundo azul, estampada com flores laranja e rosa, dependurada no armador ao lado da cama.

Não fez nenhuma relação das flores que sorriam vibrantes no tecido do objeto com o universo feminino, e por isso mesmo, saiu como habitualmente rumo ao cotidiano de sempre.

Ao passar pelas ruas, sentiu o olhar ridicularizador dos que estavam na lida, nos prédios em construção e nas bancas de revistas onde sorrisos de canto de boca e olhares afiados olhavam com espanto seu guarda chuva estampado.
Depois do segundo quarteirão, começou a achar bom o espanto que o acompanhava e começou a rir junto com seu jardim andante.

A cena ao contrário do que a maioria via era poética. Caminhando apressado, suas flores iam pelas calçadas, colorindo e suavizando o dia cinza que tentava impor preguiça e tristeza à cidade.


Stefano Ferreira. Madrugada de um 14 de dezembro frio.

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